domingo, 15 de maio de 2011

Sobre se Perder e Esconder

A gente é assim, vai se perdendo nos outros, se perdendo na gente, se perdendo dos outros, se perdendo da gente até que percebe que está na hora de se encontrar. Encontrar em algo, em alguém. Em algum cheiro, em algum lugar, em algum livro, em algum amigo.

A gente vai se perdendo no alheio, esquecendo-se das vontades não nossas, mas dele, esquecendo que as pessoas são uma alma presa em um labirinto, por vezes, intocável.

Vai seguindo em frente, buscando, escavando, procurando por aquilo que deseja das outras pessoas. Aquela intimidade sutil, aquele sorriso espontâneo, o pedido de desculpas cheio de remorso, aquele “eu quero estar com você” não falado, mas timidamente evidente.

Até que a gente muda de foco sem perceber. Não queremos mais a pessoa como ela é, mas a queremos nos amando, nos entendendo, nos aceitando, respeitando, nos querendo.

Estou me fazendo entender? O que quero dizer é que, às vezes, nós temos o azar – essa necessidade triste – de irmos preocupando-nos com o que a pessoa sente da gente e não com a pessoa em si. A gente ressalta que ela existe como um ser humano que é sujeito à decepção e vai se deixando perder naquele sentimento especial, naquele conforto, nos gestos, nos olhos, nos abraços. Tudo muito cheio de culpa, cheio de segredos que não quer revelar.

A gente vai se tornando tão egoísta, sabe? Só querendo, necessitando, ansiando, desejando. A gente se torna mesquinho e egoísta com a falta de amor. Queremos aquela pessoa só para gente.

Não é estranho? Não é estranho que não liguemos – mesmo que sem querer, sem querer de verdade, assim sem intenção de fazer sofrer – para quem amamos contanto que sejamos amados?

Não é isso o que eu quero dizer. Nos importamos, sim, claro que nos importamos. Mas é que em um ponto do caminho, parece que a gente esquece que aquele ser humano tem vontades, tem uma vida, tem uma história, tem seus segredos, suas dores e, principalmente, um sorriso que esconde tudo isso e tudo aquilo.

Aí percebemos que existe, sim, algo por trás de toda aquela fachada – que afinal, é só mais uma fachada. Algo bem assim como a gente. Algo que sofre, que chora, que grita, que se machuca, que anseia por amor tanto quanto nós mesmos. Algo como nós.

Por isso que é complicado se perder em alguém na busca de tentar achar a pessoa que é. Precisa de cuidado extra, atenção múltipla e muita perseverança. Nem todos são labirintos fáceis; têm uns que têm monstros, pesadelos, esquinas sombrias, armadilhas e tudo o que nem pensamos existir.

Às vezes, só queremos nos perder, mas não estamos dispostos a abrir nossas janelas e deixar alguém entrar. Como pode tanto egoísmo? Como se pode coexistir assim? Mas é aquela sensação de fraqueza, de insegurança, de impotência, de incapacidade. É que o medo nos leva a inventar personalidades odiáveis que nem sabíamos da existência.

Mas a gente aprende – tem sempre alguém que aprende. A gente vai aprendendo a aprender, a perseverar, a esquecer – os traumas, as tristezas, os amores perdidos, as sensações de vazio, de incompetência, o desespero – e vamos conseguindo viver assim, na medida do possível, tentando não afastar pessoas que saibam demais da gente – ou pelo menos um pouquinho mais que todo mundo – nos dando aquela sensação de insegurança, fragilidade, como se nossos defeitos estivessem todos expostos, todos os nossos medos e segredos.

Mas é assim, a gente aprende. Com o tempo, a gente aprende a aprender.

É sempre nisso que eu tento pensar. Fecho os olhos, respiro fundo, medito por um momento e repito para mim em voz alta para evocar a confiança: “Com o tempo, a gente aprende a aprender”, aí repito novamente: “A gente aprende a aprender”. Repito assim, baixo e lentamente para a frase entrar na cabeça. Que assim a frase ecoa em meus pensamentos, e não importa quão pequena seja a quantidade de vezes que ela chegue a ecoar, porque nesses curtos instantes eu realmente consigo acreditar que sim, a gente aprende a aprender.

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