sábado, 19 de novembro de 2011

Tarde Qualquer

Às vezes, paro e fico olhando
A parede parece tão interessante
Quanto a árvore tocada pela brisa
Numa tarde de qualquer estação
Relembro fragmentos
Que já sei estarem velhos
Redesenhados
Inconfiáveis
Relembro dos desenhos
Que na TV me faziam a alegria
Das músicas
Que de tanto ouvir sabia de cor
Das brincadeiras
Que por pobreza aprendi a brincar
Dos provérbios
Que me atraía desvendar
Então percebo que
Aquele não mais meu mundo é
Sacudo a cabeça
Como quem acaba de sonhar
E saio do transe
Que como rastro deixa a nostalgia
E volto para a minha vidinha
Que com o tempo aprendi a viver
Sem alegrias
Encantos
Simplicidade
Facilidade
Volto à vida
A qual vida não deveria se chamar

domingo, 13 de novembro de 2011

Memento

Mas já passou. Claro, não ia ficar para sempre. Aquele sentimento pleno, a efemeridade, a fresta de luz surgindo por entre nuvens foi embora, porque era só uma coisa mínima. Toda a realização, todo o orgulho do antes discutido foi-se lentamente a passos preguiçosos, como se me dissesse “aproveite-me ao máximo possível, garota”. Mas se foi, tudo se foi. Só ficou o que antes era turvo e sombrio, triste e amargurado, desespero em todos os segundos. Depois do anoitecer, tudo voltou ao que era antes, como em todas as noites. Como em todas as madrugadas, a hora mais escura do dia, o céu mais escuro da noite. Só restaram todos os choros, todas as giletes, todas as cicatrizes, todo o sangue. Mas o que sobra de tudo isso? Somente uma fase. Aquela na qual você olha para algo, para qualquer coisa, olha para fora ou para dentro, e você vê aquilo que antes era caótico, que antes não conseguia ver. Que antes não era captado por sua percepção. Você entende e então, de repente – de repente – você para de chorar, porque uma paz de espírito irrequieta te acomete. Inquieta porque não é paz, longe disse, é só um acordo entre seu lado esquerdo do cérebro e o direito. “Vamos parar de chorar? Isso não faz bem para a nossa menina. Toda essa loucura de não saber o que está sentindo, essa mistura de dores e decepções, essa dor no peito, olha a bagunça que ela é!”. Então você para, porque aquela paz buliçosa age como um calmante em seus músculos, um ópio natural; e você fica lá, encarando o nada, olhando para a vida com apatia, sentindo tristeza por dentro, porque esse é o único sentimento que nunca vai embora. Que sempre fica com você como um lembrete.