Depois da tempestade
vem a bonança. Sabe o que isso quer dizer? É aquela tranquilidade de espírito
que muitos almejam. Que nós
almejamos. Nunca entendi muito bem esse ditado. Tá, e daí que depois da
tempestade vem a bonança? Já enfrentei tantas tempestades no meu pequeno
barquinho frágil, quebradiço, novo, mas com aparência de cem anos. Tantas
tempestades que não saberia computar. Tantas que levaram tudo o que eu tinha,
que acabei achando que não conseguiria trazer de volta o que havia perdido, e,
às vezes, penso que nunca conseguirei. Mas com o tempo – a única constante no
mundo todo – percebi que não importa o quanto perdemos de nós mesmos, porque um
dia simplesmente lidamos com a falta desses pedacinhos. Um dia a gente percebe
que, bem, foda-se, fazer o quê? A vida é assim, é uma merda, é inconstante.
Esperar que mantivéssemos aquela inocência de criança para a vida toda é, simplesmente,
ingênuo demais. Mas e depois? E a bonança? Nunca entendi esse provérbio porque
nunca conheci a bonança. Para mim, essa calmaria que vinha depois das
tempestades era constante. A meu ver, no desfecho tudo daria certo. Quão
inocente de mim. Porque afinal, o provérbio definitivo deveria ser “Depois da
tempestade vem a bonança. E vice-versa”, mas quem gostaria de ouvir isso? A
vida é cheia de pessoas que pensam de modo otimista, e qual delas gostaria de
saber que, no fim das contas, a bonança não é o que persevera? No entanto, com quase duas décadas de
invernos vivenciados, a gente adquire uma mentalidade diferente daquela que a
gente tinha há muito ou há pouco tempo. É bem como os sábios chineses
filosofaram: a vida é composta de forças negativas e positivas, o Yin e o Yang.
Ambas as energias estão presentes na vida de qualquer pessoa, pois elas são
complementares. A luz não pode existir sem escuridão, tampouco o inverso. Basicamente,
elas são opostas, mas não se opõem. Em sua natureza, elas buscam o equilíbrio no
fluxo constante do universo. E é assim que eu me sinto agora. Não importa se
sou Yin ou se sou Yang, o fato é que sempre serei o que sou independente do que
eu faça, mas sempre terei em mim uma semente da energia oposta. Não importa
quantas tempestades virão, quantos milhares de vezes terei que reconstruir meu
pequeno barquinho cansado, sempre haverá uma bonança dentro de mim esperando o
momento certo para despertar e se espalhar, equilibrar-se.